Entrevistas




 O Ensino Fundamental de nove anos trouxe muitas duvidas, por isso sugerimos a leitura da reportagem publicada pela revista nova escola sobre a implantação desse segmento, que com certeza será de grande utilidade para muitos educadores.
Ensino Fundamental de 9 anos.
Falta pouco tempo para encerrar o prazo dado pelo governo para as redes se adaptarem ao novo Ensino Fundamental. As escolas públicas brasileiras têm até 2010 para garantir que todas as crianças com 6 anos de idade sejam matriculadas no 1º ano desse segmento. Confira aqui as respostas às questões mais frequentes, navegue pelo conteúdo exclusivo e participe do fórum enviando sua opinião e suas dúvidas sobre o tema.
Perguntas mais frequentes:
1. Como deve ser a transição do sistema de 8 anos para o de 9 anos?

Para implantar o Ensino Fundamental de 9 anos, as redes municipais e estaduais devem passar por um período de transição em que os dois sistemas coexistem. Durante esses anos, as escolas devem operar seguindo duas matrizes curriculares: a antiga, para o ensino fundamental de oito anos (até que a última turma que ingressou na antiga 1ª série se forme na 8ª série) e a nova, para o Ensino Fundamental de nove anos. Mais do que simplesmente aceitar as matrículas das crianças de 6 anos de idade no 1º ano, as secretarias devem se reestruturar, reelaborando, em conjunto com os gestores das escolas, a Proposta Pedagógica da rede e o Projeto Político-Pedagógico das escolas, considerando a maior duração do processo formativo. Os professores precisam ser capacitados para desenvolver um trabalho coerente com a nova realidade, respeitando o desenvolvimento da infância. O espaço físico e o mobiliário das salas de 1º ano precisam ser apropriados para crianças de 6 ano
2. As crianças que completarem 6 anos em julho podem ser matriculadas no 1º ano?
Não. O Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu que só poderão ser matriculadas no 1º ano as crianças com 6 anos completos ou a completar até o início do ano letivo. Quem decide a data exata do início do ano letivo é o Conselho Estadual ou Municipal de Educação. Os alunos que completarem 6 anos após essa data (mesmo que seja apenas um dia depois do início do ano letivo) devem ser matriculadas na pré-escola da Educação Infantil.
3. Como fica a Educação Infantil?
A Educação Infantil passa a ter a duração total de 5 anos. Continua a atender na creche crianças de 0 a 3 anos e na pré-escola, as de 4 e 5 e também as que completarem 6 anos após o início do ano letivo.
4. O MEC vai distribuir materiais especiais?
Segundo a assessoria da Secretaria da Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), no início do ano letivo de 2010, todas as escolas públicas do país receberão um kit de materiais específicos para as séries iniciais. Fazem parte deste kit o caderno “Orientações para o Trabalho com a Linguagem Escrita em Turmas de Crianças de Seis anos de Idade”, elaborado pelo Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e uma caixa com dez jogos para alfabetização, acompanhados de sugestões de como utilizá-los em sala de aula. Criados pelo Centro de Estudos em Educação e Linguagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os jogos serão distribuídos de acordo com a quantidade de alunos em classes de alfabetização. Escolas com até 70 alunos receberão uma caixa. Aquelas com 80 alunos terão duas caixas e assim sucessivamente.
5. Como fica a aplicação da Provinha Brasil?
A aplicação da Provinha Brasil será feita no início e no final do 2º ano. Segundo o MEC, os dois primeiros anos desse ciclo de três anos de duração, considerado "ciclo da infância", são cruciais para a apropriação de muitos conhecimentos indispensáveis ao domínio do sistema alfabético. Assim, mesmo que a alfabetização aconteça ao longo dos três anos iniciais, o acompanhamento das crianças nesse aprendizado nos dois primeiros anos possibilitará  a sistematização, o aprofundamento e a consolidação de muitos saberes sobre a língua no 3º ano.  
6. Crianças de 6 anos que leem e escrevem podem ser matriculadas no 2º ano do Fundamental?
Não. Segundo o Parecer CNE/CEB nº 7/2007, nenhuma criança que está ingressando no Ensino Fundamental pode ser matriculada diretamente no segundo ano letivo, tendo ou não frequentado a pré-escola. A justificativa do MEC, publicada no documento “Ensino Fundamental de nove anos: passo a passo do processo de implantação”, é a de que a “ampliação do tempo dessa etapa visa qualificar o ensino e a aprendizagem e não antecipar sua conclusão”.
7. O conteúdo do 1º ano do Fundamental de 9 anos é igual ao trabalhado no último ano da pré-escola?
Nem um nem outro. É preciso garantir, no 1º ano, que o trabalho seja voltado para as especificidade das crianças de 6 anos, preservando, principalmente, o tempo destinado ao brincar. Especialistas alertam para o risco de se adiantar as aprendizagens voltadas para as crianças mais velhas, roubando etapas do desenvolvimento infantil desses alunos. No entanto, ao contrário do que acontecia no último ano da pré-escola, este 1º ano não encerra uma fase e sim, inaugura um ciclo que deve ser considerado como um todo, constituído de três anos, ao final dos quais a criança deve estar alfabetizada. Portanto, é necessário criar uma nova matriz curricular com um caminho híbrido que garanta o ensino dos conteúdos das diversas disciplinas ao mesmo tempo em que preserva a infância.

O papel do Educador


Entrevista com Vitor Paro, professor da Faculdade de Educação da USP
Professor defende a gestão coletiva como a forma de fazer com que todos sejam corresponsáveis pela aprendizagem
Vitor Paro
Diretor que não decide tudo sozinho, professores que trabalham em parceria e currículo que considera o aluno sujeito de seu próprio aprendizado. Para Vitor Paro, professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), esses são elementos fundamentais na construção de uma escola democrática. Um modelo de ensino que, ao estimular o trabalho coletivo, forma cidadãos autônomos e críticos.

"Isso contrasta com o que se vê na maioria das escolas, nas quais o poder é centralizado e se tem a falsa ideia de que basta que uma criança esteja na sala de aula para que ela aprenda", afirma o pesquisador, que falou à revista GESTÃO ESCOLAR em novembro por ocasião do lançamento de seu livro Crítica da Estrutura da Escola, escrito com base no trabalho de observação e entrevista em uma instituição pública de Ensino Fundamental da cidade de São Paulo.

Qual o principal problema da estrutura do nosso sistema escolar?
VITOR PARO 
A escola brasileira erra ao definir seus objetivos. A Educação deve formar personalidades humanas, fazer com que os alunos se apropriem da cultura em seu sentido amplo: valores, Ciência, todos os tipos de Arte. Para isso, o educando deve ser sujeito do processo e precisa querer aprender. Principalmente na Educação Básica, quando a criança é obrigada a frequentar a escola. Nesse segmento, o sistema não se mostra preocupado se ele e sua família estão satisfeitos com o serviço que recebem. É um absurdo que hoje, com todo o desenvolvimento da Ciência, se faça o que se fazia há 200 anos: confinando crianças em um espaço restrito e imutável como a sala de aula.

É possível mudar isso?
PARO 
As modificações só acontecem quando a Educação é entendida em sua especificidade. Escola não é uma empresa que cumpre metas para alcançar objetivos. Nosso sucesso é saber conviver com a subjetividade do outro, o que só é possível em um ambiente democrático.

De que forma o diretor pode realizar uma gestão democrática?
PARO 
Abrindo mão de trabalhar num sistema de relação vertical. Gerir não é mandar no outro. Os meios têm de ser adequados aos fins. E a finalidade da Educação, para mim, é formar indivíduos e cidadãos. Ora, isso sim é um objetivo democrático. Então, as maneiras eleitas para atingi-lo não podem ser contraditórias a essa meta. Parece-me muito mais interessante uma escola em que as decisões e as responsabilidades estão a cargo de um coletivo - e não ter apenas uma pessoa respondendo por tudo. Minha proposta é a formação de um conselho com quatro coordenadores: administrativo, financeiro, pedagógico e comunitário. Vi uma estrutura parecida a essa numa instituição da rede pública na cidade de São Paulo no início dos anos 2000. A diretora montou um colegiado com as duas coordenadoras e a vice-diretora. Antes de tomar qualquer decisão, ela conversava com essa equipe.
O trabalho coletivo serve de inspiração também para os professores?
PARO 
A direção tem de se propor a circular pela escola e ouvir os que nela transitam. Em uma reunião com os professores, por exemplo, deve escutar e considerar as inquietações e demandas. Isso já faz com que o grupo se sinta respeitado e valorizado profissionalmente. Outra ideia é promover a leitura de textos críticos entre os docentes e reservar um tempo para conversar sobre o tema com eles, colocando assim todos na posição de sujeitos. Sem imposição, o gestor começa a liderar tanto no sentido técnico como no político. Esse é o primeiro passo para uma estratégia mais ousada, como a de estimular que um professor assista à aula de outro. A resistência inicial é normal, mas, em pouco tempo, eles estarão convidando os colegas para avaliar o seu plano de ensino e dar sugestões. 

Em efeito cascata, esse modo de ação coletiva atinge os alunos?
PARO 
Claro, desde que se mude a forma de avaliar. O teste é um componente importante, mas não pode ser o único a medir o progresso do estudante. Atualmente, as provas oficiais que balizam as escolas do Brasil, como o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) não mostram se o aluno é um sujeito com conhecimento histórico e crítico, que entende de música e cultura. Afinal, é esse repertório que faz com que ele se aproprie dos conteúdos de Matemática e Língua Portuguesa com mais facilidade. Basta olhar as boas notas de estudantes suíços e belgas no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). 

Qual é a melhor forma de avaliar conhecimentos e habilidades?
PARO 
O melhor avaliador é mesmo o professor, não por ser ele a aplicar as provas, mas por ser quem acompanha o aluno diariamente, em todas as suas manifestações, sendo ciente de seus avanços e suas dificuldades corriqueiras. Essa observação é muito mais rica do que qualquer prova escrita. Para que isso aconteça, além de o docente ser muito bem formado e preparado, é preciso que haja uma equipe mais perene nas escolas, capaz de compreender o desenvolvimento da criança ao longo do tempo. 

A alta rotatividade de gestores e docentes nas escolas é um inimigo para a gestão democrática?
PARO 
É um elemento importante. Isso é estimulado pela própria forma de prover o cargo. Nas redes que utilizam o concurso como forma de seleção, é comum o diretor começar sua carreira em uma unidade de periferia e acumular pontos para se transferir para um bairro mais seguro ou próximo da sua casa. Na escola que visitei para escrever meu livro, mesmo sendo em uma região central, isto aconteceu: comecei a pesquisa com uma diretora e terminei com outra. 

Como sua pesquisa foi estruturada?
PARO 
Acompanhei por um ano o dia a dia de uma escola de Ensino Fundamental de São Paulo. Durante esse tempo, assisti às aulas, observei o horário de trabalho pedagógico de professores e entrevistei a equipe gestora, os funcionários e os docentes. Meu objetivo foi, com base no material que já tenho publicado sobre gestão escolar, apontar os problemas e sugerir as possibilidades para que se estruture uma escola mais democrática.

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